O OUTONO vem chegando no hemisfério norte — é só olhar para as aves no céu migrando para o sul. Querem fugir do inverno rigoroso. Há bandos de estorninhos-malhados batendo as asas — que alegria! Há também grous voando em formação de V — tão imponentes! Olhando para baixo, lá vai a ursa-parda se arrastando com passos pesados. Ela também enfrenta o problema da sobrevivência. Com a aproximação do inverno, a vegetação seca e, com o frio intenso, a terra fica gelada e a neve acoberta os bosques. Para quem tem asas não há problema. É só voar para outras bandas. Mas e a ursa-parda? Bem, ela não tem como sair correndo pelos bosques, agora inóspitos, e migrar para regiões mais quentes. Será que existe uma saída para ela?
Existe, sim, e é bem prática. Ela sabe que, durante o verão, deve se alimentar muito bem a fim de fazer reservas para o inverno e ter condições de hibernar até a primavera. Resumido assim, parece simples. Mas a realidade é bem mais complexa. Imagine como você ficaria, se não comesse nem tomasse líquidos por seis meses! No caso da ursa, para compensar a falta de alimentos e de água, ocorre algo surpreendente durante a longa soneca hibernal. São fases interessantes que devemos analisar.
Verão — trabalho intenso
Para conseguir jejuar por vários meses, a ursa precisa ficar mais robusta e com constituição mais resistente para ter energia de sobra. Não é hora de se preocupar em manter a forma. O importante agora é criar gordura. São camadas de gordura que, em algumas partes do corpo, chegam a ter até oito centímetros de espessura! Se a ordem é comer, nada como as frutinhas silvestres, bem docinhas, de que ela tanto gosta. Mas ela não é exigente. O que aparecer na frente — raízes, pequenos mamíferos, peixes e formigas — está ótimo. Com a chegada do outono, dos 130 quilos iniciais ela pode ter aumentado para 160 quilos, dos quais um terço é gordura (a essa altura o macho pode estar pesando uns 300 quilos). Está chegando a hora de entrar na toca e mergulhar no sono hibernal. Só que, antes disso, ela precisa parar de se alimentar e evacuar até limpar bem os intestinos. Depois, por uns seis meses ela não come, não urina nem defeca.
A toca pode ser uma gruta, um formigueiro abandonado ou debaixo de uma árvore caída. O importante é que seja um lugar tranqüilo. Afinal de contas, ninguém gosta de ser perturbado enquanto dorme. Agora ela precisa providenciar “colchão” e “roupa de cama”. Ela se põe a juntar galhos de espruce, musgo, turfa e outras coisas. O seu “cantinho” precisa ficar bem aconchegante. Na realidade, a toca não costuma ser muito maior do que o necessário para abrigar o volumoso corpo da ursa. Com a neve, a toca fica toda coberta com exceção de um orifício, por onde entra o ar. Só vê essa pequena abertura o observador muito atento.
A soneca
Os animais que se pode dizer que realmente hibernam são alguns mamíferos de pequeno porte, como o ouriço-cacheiro, o morcego e o arganaz. Passam grande parte do inverno em um estado bem semelhante à morte. A temperatura do corpo cai, chegando a ser quase igual à temperatura ambiente. Mas no caso da ursa, a temperatura cai apenas uns 5 graus Celsius, e o sono não é muito profundo. “Não é como se estivesse desacordada. Via de regra, uma vez ao dia ela levanta a cabeça e muda de posição”, explica o professor Raimo Hissa, que há muitos anos pesquisa o sono hibernal dos ursos, na Universidade de Oulu, Finlândia. Mas os movimentos da ursa não passam disso. Em pleno inverno, é difícil ela sair da toca.
Durante esse período, as funções vitais no corpo da ursa operam em ritmo lento, a fim de poupar energia. Os batimentos cardíacos caem para menos de dez por minuto, e o metabolismo diminui bastante. Assim que ela pega no sono gostoso e começa a roncar, inicia-se o processo importante de queima de gordura. A quebra do tecido adiposo supre as calorias e os líquidos necessários para a ursa. Apesar de as funções vitais estarem em ritmo mais lento, o metabolismo produz certa quantidade de dejetos. E agora? Como ela vai se livrar deles, sem defecar e sujar a toca? Isso não é problema para a ursa. O corpo dela simplesmente recicla os dejetos!
O professor Hissa explica: “A uréia, composto de nitrogênio encontrado na urina, é reabsorvida pelos rins e pela bexiga e transportada pelo sistema circulatório até os intestinos, onde é hidrolisada por bactérias e convertida em amônia.” E o mais surpreendente é que essa amônia volta ao fígado para formar novos aminoácidos — a essência das proteínas. Então, na realidade, o que acontece é que os dejetos são convertidos em componentes que formam as proteínas. E essas proteínas mantêm a ursa nutrida durante a longa soneca hibernal.
No passado, os caçadores de ursos esperavam essa época. Dentro da toca, hibernando, os coitados eram presas fáceis. Localizada a toca, esquiadores aos poucos cercavam o local formando uma roda. O urso era acordado e morto. Que crueldade! É por isso que hoje, em quase toda a Europa, é proibido caçar ursos no inverno.
Thiago Bastos
2 comentários:
Oi, Thiago.
Prefiro que nunca cacem os ursos... eles precisam viver.:)
Olá lita, a ideia central do texto é a longa soneca da ursa, o processo de hibernação de uma ursa, o quanto ela precisa se esforçar para conseguir armazenar energia, o processo é longo, para quando ela voltar do seu sono de princesa volte renovada e com força, entendeu? mas sua opinião também é valida. Obrigado Pela visita.
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